Junho findando e o sol já não está mais em gêmeos. Há dias penso em avaliar minha nova volta completa ao redor do astro-rei e não há margem para reclamação.
Recebi em tom de alerta: é só mais um dia, todos os dias precisam ser comemorados. Discurso tão fácil, generalista e egoísta quanto o atual propagado "todas vidas importam". O que justificaria negar o que grita por atenção, requer luz, olhar e cuidado?
Não desejo reduzir ao comparar, mas tanto num caso quanto o outro, resguardadas as necessárias proporções, é violento todo tratamento que exclua o que é específico sob o discurso raso da inclusão indiscriminada e aleatória. Te ofereço tudo, não te permito nada.
Assim, em tempos de solidão não escolhida, movimentei-me como pude¹, chamei a atenção e as (boas) energias para mim e a resposta - como tenho sorte!- foi de novo e sempre a melhor: meu dia cheio de canções² e cantorias, flores, presentes e "presenças", amor, afeto, dedicação. Visíveis esforços para que eu não me sentisse só, nem triste. Eu nunca estou só e a tristeza só me atinge na medida da força que ela, sozinha, possui.
Os dias têm sido tão difíceis, duros e cruéis, mas minha alma vem escapando livre e grata. Viver continua sendo o meu maior bem e cuidar disso tem me dado fôlego. E viver é indivisível das pessoas que escolhi para o meu percurso e nem tenho medo de dizer que fiz as melhores escolhas. Viver assim, fica quase fácil.
Buscar entender um pouco de astrologia anda longe de querer subterfúgios para justificar um modo engessado de ser. É conhecer para romper. É saber que a tendência que não me agrada nem me satisfaz precisa ser demovida, suplantada, transcendida.
O dramático trânsito canceriano não vai apagar a luz que ilumina o que vejo, nem turvar a imagem que percebo em essência. Alienação? Não. Movimento crítico deliberado. Escolha pensada, para os íntimos.
Junho vai terminando sem fogueiras nem balões. E hoje um beija-flor invadiu minha sala, inquieto, asas ligeiras, surpreendente. Fez sua graça, me abençoou e continuou pelo mundo afora, livre. Seu lugar, seu estado.
Aqui dentro, coração quente, alma colorida. Fogueira e balões.
O sol que ouso escolher.
1 - A ideia foi da Ihvna Chacon, e eu ganhei um monte de música. Obrigada!